Os trabalhadores não podem pagar sozinhos uma conta que é de todos

*Jaime Bueno de Aguiar

O Brasil está passando por um momento delicado em sua economia e os indicadores apontam para uma crise que não se sabe ainda quando irá se instalar de fato e nem qual será sua intensidade. Mas, os principais sinais de que o País sofrerá turbulências são muito claros e já podemos vê-los na vida comum das pessoas e a imprensa noticia isto todos os dias.

O dólar em alta, inflação assustando as autoridades monetárias e forte retração no mercado são mostras muito fortes de que vamos enfrentar problemas sérios ao logo desse ano de 2015 e talvez nos próximos anos também. Nós vamos. É bom que isso fique bem claro. Nós, todos nós brasileiros vamos enfrentar esses problemas. E quando dizemos que somos nós incluímos trabalhadores, patrões, classe média, assalariados, aristocratas, governo, congressistas, produtores rurais, terceiro setor e todos os que vivem no Brasil vamos sofrer os abalos dessa crise, alguns mais outros menos. Mas, vamos todos receber impactos variados.

O que não pode existir e não podemos conceber é que os trabalhadores sejam eleitos como responsáveis para pagar a conta do sofrimento de todos e que sofram mais do que todos os demais integrantes desse imenso Brasil. E o que falamos que os trabalhadores não podem pagar sozinhos por uma dívida que é de todos é porque já vimos que o governo está fortemente tendendo a colocar essa fatura na conta da classe trabalhadora, fazendo com que os operários dessa nação arquem com os recursos para ajudar o Brasil a superar o momento crítico na economia.

Mas, o pior é que o governo da presidenta Dilma já acenou com mudanças profundas em conquistas históricas que os trabalhadores incorporaram aos seus direitos nas últimas décadas. Logo o governo encabeçado por um partido que tem no movimento sindical sua gênese, que se diz defensor dos trabalhadores e que há 12 anos comanda as decisões nesse país. Logo de cara no início desse ano de 2015 fomos surpreendidos com notícias de que o governo iria mudar as regras para a concessão de benefícios trabalhistas e previdenciários, tudo isto para justificar as medidas de redução de despesas públicas. Hoje se sabe que isto estava planejado desde meados do ano passado, em plena campanha eleitoral. É claro que se o governo fosse honesto com a população e dissesse com todas as letras que os trabalhadores iriam arcar com o maior sacrifício para o reequilíbrio das contas a eleição teria outro desenlace, sem dúvida.

Outra questão preocupante é a redução de gastos com o abono salarial para este ano, da ordem de R$ 8,8 bilhões e o aumento da carência de trabalho ininterrupto para receber o benefício. Tudo isto nos mostra que o governo quer reduzir em R$ 18 bilhões os gastos com esses direitos trabalhistas para poder equilibrar o cofre do governo federal.

Isso mesmo, a redução mais significativa do que o governo espera economizar para fazer caixa virá dos direitos dos trabalhadores que sempre foram a parte mais fraca e vulnerável na relação de poder. Significa que o governo dá uma metralhadora para patrões e produtores e estilingue para trabalhadores, além de deixar quem trabalha e produz nesse país com fome e reduzir o consumo.

Se o governo pretende provocar graves convulsões sociais e reeditar situações de conflito como as que assistimos em 2013 basta insistir nessa prática. Os trabalhadores brasileiros sabem protestar e exigir que seus direitos sejam respeitados. As centrais sindicais e o sistema confederativo estão alertas para não permitir que os direitos sejam suprimidos e ignorados. Conquistas se ampliam e não vamos ceder.

Jaime Bueno de Aguiar é presidente da Federação dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários dos Estados de Goiás e Tocantins e Secretário Geral da CNTTT, cujo Presidente é o Senhor Omar José Gomes.

DATA

13 Fevereiro 2015

FONTE

Diário da manhã