No Brasil, 57% das estradas têm problemas

Mais da metade das estradas brasileiras tem deficiências, mostrou pesquisa divulgada ontem pela Confederação Nacional do Transporte (CNT). O levantamento indica que 57,4% das rodovias estão em situação regular, ruim ou péssima. O índice é ligeiramente melhor do que o registrado em 2010, quando esse percentual era de 58,8%. Por outro lado, a proporção de trechos considerados em ótimo estado caiu de 14,7% para 12,6%. E dobrou o número dos chamados pontos críticos, isto é, locais onde o risco de acidentes é elevado: de 109 para 219.

A CNT diz que as condições das estradas prejudicam a economia e matam cada vez mais. No ano passado, 8.516 pessoas morreram em rodovias federais, um acréscimo de 15,5% em relação a 2009. O número de acidentes também cresceu 15,8% no período, totalizando 183 mil colisões, em 2010. Do ponto de vista econômico, a CNT entende que exportadores e consumidores pagam o pato por causa das deficiências. A entidade estima em 13% o acréscimo no custo de fretes para transportar soja, de Mato Grosso ao Paraná, devido ao “apagão rodoviário”.

Gastos com acidentes superam investimentos

O diretor-executivo da confederação, Bruno Batista, disse que os gastos com acidentes e vítimas superam os investimentos federais em rodovias. Segundo ele, aí está o gargalo, já que o poder público não teria fôlego para resolver sozinho os problemas de infraestrutura.

A entidade estima que o Brasil precisa de R$63 bilhões para corrigir as falhas de pavimentação e sinalização detectadas na pesquisa deste ano. Dotar o país de uma malha rodoviária de boa qualidade custaria R$200 bilhões, segundo a CNT. Batista destacou que 2010 foi o ano de maior investimento federal nos últimos nove anos: R$9,8 bilhões, ou seja, menos de 5% dos R$200 bilhões de que o país precisa.

— Enquanto o governo não alocar mais recursos, vamos continuar matando pessoas nas nossas rodovias e pagando o custo desse prejuízo — disse Batista.

O diretor da Confederação Nacional de Transportes reclamou da inexistência de um marco regulatório claro sobre as parcerias público-privadas. Segundo Batista, esse tipo de iniciativa não decolou no país. A entidade cobra também a destinação integral para o setor da receita com a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide).

Outra preocupação de Batista é com falhas gerenciais e de fiscalização por parte do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Ele disse que o governo acaba tendo que refazer obras por falta de qualidade. Indagado sobre denúncias de corrupção no setor, envolvendo não apenas o Dnit, mas também empresas que superfaturam preços, o diretor afirmou que o governo precisa fazer uma limpeza.

— O governo precisa se readequar, mudar a sua estrutura gerencial. Precisa fazer de fato uma faxina — defendeu.

O diagnóstico da CNT, o maior realizado anualmente no país, retrata as condições de 92 mil quilômetros de estradas pavimentadas, cobrindo toda a malha federal, mais de 90% das rodovias concedidas à iniciativa privada e 21% das vias estaduais (principais corredores). Ao todo, há no Brasil 1,5 milhão de quilômetros de estradas, sendo 213 mil quilômetros pavimentados.

Geometria das vias tem o pior resultado

A Pesquisa CNT de Rodovias 2011, a 15ª conduzida pela entidade, foi a campo entre junho e agosto. Foram analisados três aspectos: pavimentação, sinalização e geometria das vias.

A pavimentação é o quesito em melhor situação: 52,1% em estados ótimo e bom, sendo 46,6% em condições ótimas. A sinalização não teve a mesma avaliação positiva: 43,1% de ótimo e bom (16,6% de ótimo). E a geometria das vias apresentou o pior resultado: 23,2% de ótimo e bom (4,2% de ótimo).

A pesquisa mostra ainda que as rodovias concedidas estão em condições melhores. Considerando o estado geral das vias, 48% foram consideradas ótimas. Em 2010, entretanto, esse percentual era maior: 54,7%. Segundo Batista, a incorporação recente de trechos na Bahia causou a queda. A soma dos trechos ótimos e bons em estradas concedidas alcançou 86,9%, em 2011, ligeiramente menor do que os 87,3% em 2010. Não houve trechos péssimos.

Das dez melhores ligações rodoviárias avaliadas, todas são concedidas. Das dez piores, nenhuma. Dos 63.531 quilômetros de estradas federais avaliadas, 10,6% ganharam a classificação de ótimo; 36,3%, de bom; 33% de regular; 15,5% de ruim; e 4,6% de péssimo. Os trechos ótimos caíram de 12,6%, para 10,6%, de 2010 para 2011. Já a soma de ótimo e bom subiu de 44,8% para 46,9%.

O diretor-executivo da CNT disse que empresários do setor de transporte consideram vantajoso trafegar por estradas concedidas, apesar dos pedágios, uma vez que isso reduz custos de manutenção e acelera a entrega de cargas. Segundo a CNT, 60% das cargas no Brasil são transportadas por rodovias, assim como 96% dos passageiros. O dirigente afirmou que a malha rodoviária brasileira está esgotada e precisa crescer.

Nos últimos três anos, a frota nacional aumentou em dez milhões de veículos, enquanto foram construídos somente 657 quilômetros de novas estradas federais. Batista usou uma imagem curiosa para ilustrar o descompasso: encostados uns nos outros, os dez milhões de veículos alcançariam o comprimento de 38 mil quilômetros, mais da metade da malha federal pavimentada.

 

 

DATA

31 outubro 2011

FONTE

O Globo