Equipamentos avaliam o cansaço dos caminhoneiros pelas estradas

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Os repórteres José Roberto Burnier e Marcelo Benincassa acompanharam a viagem de ida e volta de um caminhoneiro em quatro estados. Nele foi instalado um aparelho do Instituto do Sono da Universidade Federal de São Paulo, que mede o nível de fadiga de quem é submetido a grandes esforços.

Dia e noite os caminhoneiros estão na estrada. A maioria sempre com pressa, porque trabalha como autônomo, ganha por frete. Quanto mais viaja, mais ganha. É uma equação perigosa, por vezes mortal. Muitos combatem o sono com estimulantes e não com descanso e é esse cansaço do caminhoneiro que o Jornal Nacional decidiu medir.

Para fazer essa avaliação, Silvio, que é do Instituto do Sono, instalou em Marciano, que é um caminhoneiro que a equipe acompanhou, dois equipamentos. Um mediu o tempo de atividade do motorista e o outro o tempo e a qualidade do sono dele, quando ele parou para descansar. Com isso, a equipe pode saber o nível de fadiga do caminhoneiro.

A equipe partiu às 21h30 de São Paulo. O destino final estava a 1,1 mil quilômetros, em Porto Alegre. Marciano já estava acordado desde as 6h. Descarregou em uma cidade, carregou em outra e no momento partia para o Sul.

Com duas horas de estrada, o cansaço começou a bater. 30 quilômetros adiante surgiu o primeiro posto de gasolina.

“Olha, nós estamos procurando lugar para parar só para ir ao banheiro e continuar a viagem, ele não vai dormir, não vai descansar, nada. Vai seguir em diante. Não tem lugar para parar o caminhão, para estacionar o caminhão, olha aí. O jeito vai ser parar atrás de outro aqui mesmo, deixar o pisca alerta ligado e rapidinho voltar e sair correndo”, disse o repórter José Roberto Burnier.

Dez minutos depois, o grupo já estava de volta à estrada.

“Estamos fazendo agora quatro horas de viagem. Nós acabamos de passar por uma praça de pedágio, como não tem onde os caminhoneiros pararem, dá sono no pessoal, eles aproveitam a luz do pedágio e param”, contou Burnier.

Sem pontos de descanso, sem lugar nos postos, Marciano se esforçou para seguir viagem. Justo naquele momento, a pista piorou.

“Pista toda irregular. Aqui o tombo é certinho”, comentou Marciano.

A equipe chegou a Curitiba. Marciano parou em um posto e dormiu na boléia por quatro horas. Ele chegou a Porto Alegre bastante cansado.

Só 24 horas depois de ter saído de São Paulo, Marciano foi descansar de verdade e se preparar para a viagem de volta.

“Agora são 9h30, nós estamos saindo de Porto Alegre em direção a São Paulo e o Marciano vai fazer o caminho de volta de acordo com a lei. Isso significa que dentro de quatro horas ele vai ter que parar por pelo menos meia hora”, descreveu Burnier.

13h30, exatamente quatro horas depois da equipe ter saído de Porto Alegre, eles fizeram a primeira parada para que o Marciano pudesse descansar como manda a lei. 14h15, o grupo parou por 45 minutos, almoçou rapidamente e pegou a estrada de novo.

“Em geral é sempre assim, sempre essa rotina, essa corrida. Sempre contra o tempo”, ressaltou o caminhoneiro.

A lei também determina que dentro do período de 24 horas, o motorista descanse 11 horas. A equipe reparou que durante o dia é mais fácil para o caminhoneiro encontrar lugar para descansar. Na BR-101 os postos de gasolina dificilmente ficam cheios nesse horário.

“Se eu não fosse fazer de acordo com a nova lei, ia puxar direto, com certeza. Ia tocar até o meu limite”, revelou ele.

No pulso, o sensor continuou medindo o cansaço dele. Mais quatro horas de estrada e o grupo parou por meia hora, um pouco depois de Florianópolis. De lá, Marciano foi dormir em Curitiba.

Como manda a lei, ele parou por 11 horas. Saiu de manhã, quatro horas depois parou para almoçar e chegou a São Paulo no início da tarde.

Marciano diz que a viagem foi tranquila, mas que prefere não fazer muitas paradas.

“A vida em primeiro lugar, mas hoje a gente corre atrás da máquina e vira uma saia justa. Acho que ainda pesa muito o nosso salário, o nosso ganho”, disse.

E o que revelam os sensores de fadiga que Marciano usou durante toda a viagem? Você, leitor, saberá na reportagem desta quarta-feira (5).

 

DATA

5 setembro 2012

FONTE

Jornal Nacional - GLOBO